Preparem os canhões!

Tenho acompanhado o caso do julgamento do Pirate Bay através dos feeds que assino e pelo que estou vendo, isso certamente não dará em nada. Porque acho isso? Continue lendo…

Para quem não está entendendo, vamos à uma breve explicação: os responsáveis pelo Pirate Bay, o maior site de compartilhamento de arquivos por torrent da atualidade, foram processados pelas indústrias do cinema e da música e levados à julgamento nos tribunais da Suécia. A acusação: violar os direitos autorais das obras e exibir material protegido.

Só pra se ter uma idéia de como as coisas andam, basta lembrar que anteriormente, as gravadoras processavam as pessoas que porventura mantivessem e compartilhassem qualquer arquivo no formato .mp3 considerado ilegal no conputador, desde crianças à velhinhos que sequer sabiam o que era um mp3. Todo mundo entrava na dança.

Essa estratégia de processar todo mundo já não estava dando muito certo, uma vez que as empresas estavam queimando o “próprio filme” (que belo trocadilho), sendo acusadas de ficar bisbilhotando os computadores alheios em busca de “arquivos ilegais”.

Assim, os canhões foram apontados para os sites e redes de compartilhamento de arquivos espalhadas pela internet, que segundo essas empresas, são os grandes responsáveis por “facilitar” o compartilhamento de material protegido (logo vão querer processar a internet inteira por facilitar a troca…).

O que vemos aqui, é mais uma tentativa das indústrias da música e do cinema de manter um sistema de distribuição ultrapassado, indo outra vez, contra a evolução tecnológica. Convenhamos que, comprar álbuns em CD já não agrada mais ao público. O que as pessoas querem agora são músicas avulsas, isto é, de forma individual, que possam ser transferidas do computador para o mp3 player, celular, smartphone, etc, o mesmo vale para filmes e seriados. Elas querem a liberdade para ouvir, assistir e compartilhar essas músicas e vídeos com amigos, parentes ou seja lá quem for, afinal, se uma pessoa acha uma determinada música boa, nada mais natural do que querer mostrar para todo mundo como essa música é boa, não é? Você compraria um CD apenas por causa de uma música que gosta? Eu não.

Assim, nós esbarramos em outro pequeno problema (para essas empresas, é claro): A internet possui um público altamente colaborativo, o que vai totalmente contra os ideais das grandes indústrias do entretenimento. As grandes redes de distribuição nada mais são do que redes colaborativas, onde cada um cede parte de uma música, filme ou seja lá o que for. A comunidade Linux é um outro grande exmplo de rede colaborativa: tem um problema com um programa? Não consegue instalar sua distro? Basta pedir ajuda nos lugares certos que logo um monte de pessoas se prontifica a ajudá-lo.

O grande problema disso tudo é que a internet trouxe grandes mudanças aos meios de entretenimento. Eles mudaram, evoluíram, se tornaram online, conectados ao restante do mundo, ao passo que as indústrias do cinema e da música não acompanharam a evolução natural da coisa, preferindo dar as costas para a internet e manter seus padrões de distribuíção de mídia física.

Algo parecido ocorreu quando foi lançada a velha fita Cassete (ou K7). Com aquela pequena fita magnética, as pessoas poderiam regravar seus discos (os de vinil mesmo) e as músicas das rádios, fazer cópias e distribuir para amigos e parentes, uma verdadeira revolução. O problema é que as gravadoras se sentiram ameaçadas e passaram a afirmar que aquela pequana fita seria responsável pela quebra da indústria fonográfica. As fitas K7 vieram e já se foram e a indústria fonográfica continua aí, firme e forte.

O que quero dizer com isso é que, no lugar de abraçar a internet como um mercado inteiramente novo para ser explorado, com inúmeras possibilidades de se fazer e ganhar dinheiro, os estúdios e gravadoras preferiram por muito tempo ignorá-la. Agora que perceberam grande o erro e não tem mais como “embarcar” nesse grande mar de possibilidades, tentam, a todo custo, evitar mais prejuízos coibindo a troca de arquivos. Isso inclui processar velhinhos, crianças, tirar sites do ar e fazer pressão para assustar os usuários.

No Brasil tivemos casos parecidos, como a comunidade do Orkut acusada de promover pirataria e mais recentemente o site Legendas.tv que foi tirado do ar à pedido (ela tem autoridade para “pedir” isso?) da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música). Veja uma reportagem aqui. Não sei sobre a comunidade do Orkut, mas felizmente o legendas.tv já voltou ao ar.

Enfim, mesmo que a turma da “Baía dos piratas” seja condenada por promover a troca ilegal de arquivos protegidos e o site seja fechado, o que as gravadoras e estúdios farão depois? Vão tirar do ar todos os sites e programas de compartilhamento que surgem por aí? Vão tirar a internet do ar? Vão continuar indo na contramão da internet, distribuindo material protegido em mídia física e punindo quem tenta compartilhar? Vão evoluir e descobrir que a internet é sua amiga e pode render-lhes uns bons trocados?

A troca de arquivos certamente não vai deixar de acontecer, independente do resultado do julgamento. Ou os estúdios e gravadoras se adaptam a nova realidade ou vão continuar por aí, gastando rios de dinheiro em uma infinita e difícil caça às bruxas.

Convenhamos que, por enquanto, tudo o que esse processo conseguiu, foi promover gratuitamente o Pirate Bay e o protocolo torrent. Quem não conhecia um, outro, ou ambos, agora, graças as gravadoras e estúdios, conhece.

Yo-ho-ho e uma garrafa de rum…

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